domingo, 10 de abril de 2011

A DOR QUE DÓI NOS DOIS MUNDOS...



Esses dias me lembrei da cena do filme As Mães de Chico Xavier, no qual é proferida uma de suas máximas:

- ...A saudade é dor que dói nos dois mundos!...

Entrei em estado de desprendimento espiritual, me recordando com melancolia da tragédia acontecida há pouco com meninos e meninas na flor da idade, no Rio de Janeiro. E, aos poucos, me senti transportada para cenário de enlevo, em local praiano - mas, certamente, não deste mundo!

Lá, me reconheci mais jovem, como é praxe em nossas visitas rápidas ou quando de nossos retornos para as paisagens da Vida definitiva. Vestia traje branco; um vestido, e usava flores em tiara nos cabelos.

Caminhando por ali, com os meus pés entre as águas frescas das ondas do mar que se agitava em perfumes e rumores reconfortantes, trazia ainda no estado de espírito a mesma melancolia que me dominava ao entrar naquele transe, aqui, no âmbito material, enquanto ouvia, distraída, a música em estilo celta executada por um grupo agradável de instrumentistas acomodados nas areias ali por perto, como num acolhedor acompamento de veraneio.

Parecia-me uma tarde ensolarada, repousante. O único rumor audível era o dos ventos misturados ao ir e vir das ondas espraiando-se nas areias macias; quando, de repente, alguém se aproximou, tomando-me gentilmente pela mão.

- Faz muito tempo que você não dança um pouco. Venha comigo... - pronunciou a voz grave e agradável, fazendo com que me voltasse e reconhecesse logo, com enlevada surpresa, a presença do meu mentor desencarnado, Caio Quinto, o autor de nossos livros, há quem já há um longo tempo não deparava assim, de maneira tão direta.

Puxou-me amavelmente para perto do grupo, enquanto ainda me demorava a me perturbar com o que acontecia, buscando, como sempre, - e como é usual acontecer enquanto reencarnados - explicações plausíveis para o fato, porque guardava clara a recordação de me achar ao mesmo tempo em dois lugares: ali, e no sofá de minha casa, em estado de repouso, durante uma tarde silenciosa de fim de semana, na minha residência no Rio de Janeiro.

Para a minha ainda maior admiração, em iniciativa até então inédita desde que passei a conviver via mediunidade com este meu tutor amorável durante a presente trajetória material, trouxe-me gentilmente para si, e se pos a dançar comigo aquela melodia maravilhosa, entoada em instrumentos cuja definição se me torna difícil de traduzir em palavras.

- Você precisa dançar ou cantar, de vez em quando... - sorria-me, jovial - Ajuda a dissipar estes estados de  melancolia...

Mas eu me mantinha na mesma disposição, agora de mistura com a franca emoção experimentada pelo lugar paradisíaco onde fora ter de inopino, e pelo que me acontecia, na presença deste que durante todo o tempo tem se manifestado como meu fiel protetor e mentor pessoal e familiar, durante os desafios da jornada terrestre.

- É difícil para a mente assimilar acontecimentos deste teor! - confessei a ele, em linguagem aparentemente mental, os olhos ainda úmidos, desviando-os ao acaso para o mar caldaloso, rebentando próximo a nós - Nosso psiquismo não encontra razões que justifiquem o fato de forma satisfatória. Tudo parece fruto de um grande caos, lançando a todos em dolorida sensação de desamparo frente a estas manifestações desnorteadoras da incúria humana!...

Mas, olhando-me de dentro de sua grande serenidade e ternura habitual, ele me sorria de leve, levando-me de mansinho naquela dança gentil nas areias úmidas.

Ouvia-me com atenção e desvelo; mas parecia considerar a situação de um outro prisma. Assim, começou, a entonação de sua voz grave e cariciosa, tão familiar ao meu espírito, alcançando-me diretamente no âmbito da mente e do coração, marcante, inesquecível:

- Olha o vai-vém das ondas que lavam incessantemente as areias, e imagine que cada um desses minúsculos grãos tem vida própria, qual a nossa, e apreciam o contato mútuo e a convivência entre si... a cada ida e vinda, as águas impetuosas carregam incontáveis deles para destinos desconhecidos. Para compor outros cenários e acontecimentos na ordem da Vida, em transformação constante! E entenderá que isso não difere muito do que acontece com os movimentos de natureza variada que, em ritmo incessante, também nos deslocam, a todos nós, para destinos diversos!...

Eu dirigi a ele o meu olhar curioso ante a idéia inspirada, talvez mais alentado, e tomado por renovado brilho. Ele, notando isso, prosseguiu:

- Como estes grãos de areia que aqui permanecem, e se pudessem eles se dar conta da ausência dos que se foram, também lamentariam a sua partida, querida, ignorando o paradeiro de todos na imensa orquestração do Oceano! É como acontece conosco, tanto lá, onde você por enquanto estagia, na despedida da morte corporal, quanto por aqui, quando nossos amores e afetos partem temporariamente para as vivências inéditas no aprendizado às vezes árduo da materialidade!...

E deitando-me olhar profundo e comovente, o sorriso amoroso ainda imóvel em seus lábios, após apor-me leve beijo na fronte, concluiu:

- Também senti a sua partida, desta última vez em que se foi para a sua nova estadia física! Todos nós sentimos! Mas sabemos, daqui, que tudo continua, e que a sua volta para nós, em época oportuna, é simplesmente fato líquido e certo, com o qual podemos contar! E então, todas as razões pelas quais todos se foram ou vieram; todos os acontecimentos, de quaisquer qualidades sejam, que tenham motivado a partida e a chegada, haverão de tomar um segundo plano na ordem das coisas! Porque o essencial, minha querida, é a continuidade da Vida, pura e simples! Para todas aquelas crianças e os seus familiares, que por agora tanto sofrem; e para todos nós... e arrematando, enquanto parávamos um pouco, ao fim da melodia tocante entoada próxima de onde estávamos, entrelaçando-me, afetuosamente, as mãos - Assim, apenas esperemos! Pois um dia todo o ansiado entendimento e reconforto virão, em situação melhor, mais apaziguada! Mais adequada à devida compreensão de tudo!...

A última lembrança que guardo é a destas palavras proferidas carinhosamente, sob os ventos amenos daquela tarde luminosa diante dos mares das mais altas esferas. E a do olhar amoroso de Caio Fábio Quinto, contemplando-me como a uma criança temporariamente desalentada, e abraçando-me, por fim - sabendo que tudo ocupa o seu lugar e o seu momento certo para cada um de nós, nos fluxos e refluxos dos movimentos da Vida; e procurando, devotadamente, aproveitar aquele curto instante de reencontro para reavivar em meu espírito transitoriamente desorientado esta certeza.

- Também senti a sua partida... - o mentor querido me afiançou, com tocante emotividade.

A saudade é dor que dói nos dois mundos!

Mas não para sempre!

Só por agora...

domingo, 3 de abril de 2011

ENTRE NO PERSONAGEM!


Qual personagem escolheu para vestir ao renascer para esta vida passageira na esfera física?

E hoje, pela manhã?...

A escolha é sempre sua! Não há fatalidades, apesar das tendências de origem cármica!

Em Nosso Lar, vimos André Luiz se reformulando e revendo conceitos que melhor o situassem na acolhedora estância da Vida Espiritual que o socorreu após sua passagem pelo umbral.

Foram justamente as suas tendências pouco adequadas à sintonização com uma esfera melhorada da espiritualidade que o magnetizaram temporariamente àquele local de rudes conflitos e expurgos. E assim acontece, matematicamente, com todos nós.

Assim como o médico orgulhoso de outrora teve que se refazer como pessoa para atrair a si mesmo condições mais confraternas, mais felizes, de existência, após a passagem para o mundo dos espíritos, também efetuamos, sem perceber, nossas escolhas de momento a momento, aqui mesmo, criando, com isto, cada minuto de nossos dias. Na maior parte do tempo, no entanto, de forma inconsciente para com o mecanismo das leis que nos regem os destinos.

E estas leis naturais, simples mas imperiosas, são nada mais do que as leis de sintonia!

Portanto, qual o personagem no qual você está entrando, neste exato momento?

Descontrola-se com facilidade diante das impertinências de um marido, esposa, pai ou mãe, abandonando-se ao ímpeto da ira e das emoções desagradáveis que, por invigilância, muita vez nos estragam todo o decorrer de um dia? Ou escolhe como agir ante a situação difícil, buscando soluções viáveis para o benefício mútuo - talvez recolhendo-se em preces ou em meditação produtiva, que o tire de cena por um instante, para depois ser inspirado por aquela Luz que o tempo faz brilhar, fielmente, auxiliando-nos nas ações mais apropriadas a cada desafio que nos defronta?

Em qual personagem tem escolhido entrar minuto a minuto de suas horas e semanas? No do insensato que se deixa dominar pelo descontrole emocional, ou no do sábio que, reconhecendo existir para cada problema ou situação a solução mais adequada, investe na maior cota de serenidade que lhe seja possível para cada lance do cotidiano, apostando nas mudanças contínuas que certamente nos trarão alento e resultados?

Então, se, de dentro de sua condição humana, reconhece-se momentaneamente desnorteado ou entregue às vagas impetuosas do desatino ou do desarvoramento, pare um pouco. Respire, saia de cena! Permita breve momento na contemplação pura e simples do sol, do mar, dos ventos, ou do vagar sonolento das nuvens mudando de forma a cada segundo. E diga a si mesmo que você, exclusivamente, se acha no controle de tudo, a partir do simples modo como reage aos acontecimentos!

Sofreu injustiças e agruras imerecidas no meio profissional? Reflita que pagamento maior não há para o justo do que uma consciência tranquila ao final de um dia! Por outro lado, no recesso de sua consciência reconhece-se como o causador de algum malfeito que tenha atingido desfavoravelmente o seu semelhante? Então, não desperdice um só minuto em reconhecer que os grandes de espírito não são os agressores, ou os que se beneficiam ao custo do prejuízo do seu próximo - mas qualquer um que, a tempo, caia em si e, por atos, faça por onde mobilizar boas atitudes a favor do prejudicado, senão com o devido pedido de perdão, com gestos - que sempre falam mais aos corações do que qualquer palavra!

Deprimiu-se ante os quadros comumente desanimadores do mundo atual? Mas reflita e descobrirá rápido que certamente tem muito, mas muito mesmo, a agradecer à Vida diariamente! E isto lhe transmutará o ânimo! Pela visão, quando tantos já nascem sem o lume das janelas da vida! Igualmente pela audição, pelo tato, pelos dons da locomoção e da fala! Pela oportunidade de trabalho, por mais humilde que seja - quando tantos morrem diariamente na indigência e na miséria! Pelo convívio com a família, ou com um grande afeto que seja, quando muitos se acham na sarjeta das ruas, sem o arrimo de um colo sequer! Pela água para beber e se banhar em dias de calor; pelo assento confortável, pela condução que se pode pegar até o amigo afastado; pela oportunidade de se rir de uma piada ou de se inebriar ante a majestade das montanhas!

Gratidão... a melhor frequência de abundância, de amor, de felicidade que podemos sempre irradiar à Vida, sem nenhum custo - e que nos magnetiza matematicamente mais e mais razões para agradecer e se felicitar!

Assim, em qual personagem escolhe entrar? Sim! Não apenas com o começo da trajetória física!

Qualquer momento é adequado para se despertar para a verdade de que a escolha, pura e simples, é a maior chave para modificar a nossa realidade, de algo apenas fatalista, noutra sempre feliz!

É por isso que procuro escolher, todos os dias, entrar num personagem da Luz - aqui, agora, e assim para sempre!...